Camelos

``Eu quero me apossar do é da coisa`` Clarice L.

Monday, June 26, 2006

-MUSS ES SEIN?- (tem que ser assim?)

Ele gritava sem parar saltando-lhe as veias uma raiva contida, ela de olhos baixos engolida por uma incompreensão de si mesma quase fria, recebia aqueles gritos numa opacidade sem dor, sem dó, sem dificuldade. Se tornara uma estátua, tanto fazia o mundo, desde que não a obrigassem a participar dele.

A porta bateu com força nas suas costas e por alguns minutos um silêncio insuportável tomou conta do quarto. Um silêncio doloroso, um temor, uma ansiedade mastigadora do que viria ser o próximo instante. Num ato súbito pegou os documentos, os remédios e uma pequena quantia em dinheiro. Girou e puxou a maçaneta, então irrompeu a sala, firme, sem olhar para os lados, em direção a entrada.

O homem que agora assistia televisão levantou num pulo e postou-se diante dela, já na escada que descia para a saída do prédio, novamente aos berros.

Como automaticamente, ela sentou e fez menção a esperar que o outro saisse. Não respondeu nenhuma de suas perguntas, nem sequer teve qualquer reação em vista ao tom violênto daquela voz. Parecia que se protegia em uma outra atmosfera enquanto se cuspia cada vez mais ódio do outro lado ao que começava a deparar-se com a impotência. Sua presença e seu corpo rigido haviam perdido o poder, não a afetavam mais.

Um intervalo de tempo grande seguiu com os dois seres intactos, até que ela se ergueu, fechou os olhos e recomeçou a caminhar, como se nenhuma barreira a esperasse adiante. Logo sentiu dois braços fortes a imobilizarem, tentou se desvencilhar sem trair o encantamento melancólico e inerente que a tomara. Mas em vão, o sangue enfim subiu-lhe a cabeça e desta vez, diferente de tudo o que já havia se passado, chutou fervendo os membros baixos que lhe puseram no mundo.

Um choro ecoou no corredor e as mãos viris que lhe apertavam agora lhe abraçavam sofridas e fracas - se acalma, por favor.

Sem saír do seu objetivo, mergulhou mais uma vez no vazio, se desviou do corpo em frente, abriu a portinhola e se entregou a escuridão da rua.

Bastou alguns passos para que as lágrimas começasse a lhe escorrer o rosto, soluçava com medo e angústia. A imagem daquele homem bruto se desmanchando em dor e amor fez seu coração rasgar pelo meio, cair, pesar, como se bolas gigantes de ferro a acorrentassem. Não existia nada mais avassalador que a compaixão.

11 Comments:

  • At 26 June, 2006, Anonymous Anonymous said…

    Será que era mesmo compaixão ou simplesmente AMOR !??!? Julia Mendes, claro que não posso dizer que sei o que você está sentindo mas eu vivi boa parte dessa angústia com você e sei o nó que está essa sua cabeça. Os nós no entanto se desfazem. Não podemos deixar que eles nos prendam ao passado, trancando para dentro de nós rancor, ódio ou qualquer sentimento ruim. AMOR... esse é o sentimento mais nobre que um ser humano pode ter por outro. E tenho certeza de que esse é o único sentimento que "aquele homem" tem por você.
    Conte comigo minha amiga.. sempre... beijos !!!

     
  • At 26 June, 2006, Blogger Julia said…

    só não esqueça de me separar da ficção. mas com certeza o não tem nada comparável a amar. beijos com carinho.

     
  • At 26 June, 2006, Anonymous Anonymous said…

    O problema é que nesse caso a ficção se mistura com a realidade... mas deixa isso pra lá.. mil beijos com carinho para você !!!!

     
  • At 26 June, 2006, Anonymous Anonymous said…

    caralho ju... caralho...
    foda... foda... foda demais! foda pra caralho!

    continua isso. nao mata essa personagem agora nao. continua! escreve mais sobre ela. por favor! =P

    foda demais...

     
  • At 26 June, 2006, Blogger Julia said…

    continua soforonga :)

     
  • At 27 June, 2006, Anonymous Anonymous said…

    entao faz aquela música!
    ;P

     
  • At 28 June, 2006, Anonymous Anonymous said…

    Que PORRA

     
  • At 28 June, 2006, Anonymous Anonymous said…

    Legal

     
  • At 28 June, 2006, Anonymous Anonymous said…

    Q KARALHO!TA FODA

     
  • At 18 July, 2006, Anonymous Anonymous said…

    nossa, isso tem algo de auto-biográfico?
    coisa...

    gostei muito do texto!



    Só um palpite no que foi dito aqui abaixo, acho que esse papo de o amor ser o sentimento mais "nobre" é uma furada sem tamanho. O amor, eu bem acho que é o sentimento mais gostoso mesmo, e também mais construtivo, poxa, o amor é realmente muito gostoso, é uma delícia... e faz muito bem... acho que é a melhor opção pra se ser feliz é se permitir rodear de amor, e falo sério mesmo...

    Agora essa coisa de ser "nobre", é quase como que um juízo de valor, quase como se a gente merecesse uma medalha por amar, essa coisa "tão pura", tão quase que "casta"... heheh
    O que seria o oposto de um sentimento "nobre"? Um sentimento "vil", talvez "mesquinho"? E que sentimento é tão homogêneo e absolutamente negativo assim, a ponto de ser ensacado num juízo desses? O ódio, a inveja, os ciúmes? Eu acho que sentimentos não devem ser avaliados dessa maneira, acho bem que o ódio pode ter razão de ser, assim como por exemplo a inveja pode ser uma inveja interessante... Será que o desejo, puro e simples, seria um sentimento mesquinho?
    E será que o amor é sempre assim tão "nobre"? O amor pode fazer muita merda, ah se pode...

    Então, me empolguei aqui, né? mas tudo bem... só acho que chamar o amor de o sentimento mais nobre é sacaneá-lo, além de limitá-lo e circunscrevê-lo... hehe

    beijinho, juba!

     
  • At 23 July, 2006, Blogger Julia said…

    APOIADO JULIEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE

     

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