Camelos

``Eu quero me apossar do é da coisa`` Clarice L.

Monday, May 30, 2005

Diário de uma Transeunte.

(28/11/04 as 9h40 da manhã, sentada na calçada)

Me sinto como um mendigo na beira da rua.
Mendigo transeunte.
Mendigo poeta talvez.
Calças largas e o casaco cheirando cerveja.
Mendigo bêbado isso sim.
Mendigo bêbado e poeta.
Pele oleosa, cara inchada
Sentada na esquina da calçada junto a lata de lixo.
Contrasto imundices.
Pensamentos ruídos, unhas ruídas.

Visão embaralhada de quem passou a noite mastigando sonhos
Nem ameaço a continuar andando
Meu andar desconcertado
Não ameaço a pisar meus pés sem meia
Anestesiados pelas dores de sábado
O vento sopra seco e sujo
Sopra meu rosto de príncipe mendigo
Sim sou um príncipe mendigo
A terra treme sobre meus pés

Treme e o menino no colo acaba de lembrar minha infância mendiga
Trepando em arvores, vendendo pneus
Os carros passam, passam, passam
Continuam passando
As pessoas me olham com suas caras tortas de ressaca
Passam velhas meninas e jovens velhinhas
Passam Elegantes Mendigos e Pobres Ricos
Passam lugares, passam tudo
E eu continuo paisagem de tanta passagem
Retrato ôco de domingo
Acho que vou ao cinema
(Obs: E mendigo vai ao cinema?)

Maravilha.
Veio me fazer companhia o cachorro
Não um cachorro qualquer
Um cachorro mendigo
Será também este um cachorro poeta?
Abana o rabo feliz em ter achado companhia
Pobre cachorro.
Sua companhia não passa de uma mente inquieta.

Vejo mais um de mim sentado na porta do correio
Mendigo louco será este?
Fala com as próprias mãos
Eu falo com meu pensamento
Este aí é Mendigo-Rei
Inventou para si mesmo um reinado
Fala com o vento
Ascende um cigarro e faz pose
Este sim é um mendigo de classe
Sou eu então um mendigo Plebeu?

Agora veio limpar meu lar o senhor das jóias
Sorri um sorriso bonito
Andar descontraído
Ginga como Denzel Washington posando para seus paparazzis
Seus sacos de lixo

O cachorro poeta acaba de me abandonar
E lá esta Mendigo-Rei ainda sentado em seu trono
Rei do Cabelo-duro
Faz charme, experimenta sorrisos
Discursa contente para seu reino de pombas
Experimenta posições mais elegantes
Acho que simpatiza comigo
Parece que me percebe em seu reino
Discursa para mim?
Sim.
Sou sua única serva
Aqui estou eu fiel escutando suas historias de Rei

Pobre dos que passeiam
Não conhecem tal riqueza...

Agora vou abandonar meu posto.
Bom lhe ver amigo mendigo.
Espero que ainda nos encontremos nos reinados da vida
Bom dia.

2 Comments:

  • At 30 May, 2005, Blogger Flávio said…

    A solidão de uma multidão
    a multidão de uma solidão

    seus olhos doces são sempre bem vindos...

     
  • At 31 May, 2005, Blogger Windy Heart said…

    sei não, Juba, eu sou a favor de um pouco de solidão. e não estou sendo do contra,rs. gosto de solidão pra ordenar os pensamentos, palavras, sentidos, pra ficar calada, pra ver melhor as coisas, as pessoas. pra notar o mundo melhor. fui ver o ultimo filme do Allen, é uma graça(Melinda& Melinda). fui ver Casa de Areia e achei mais ou menos. queria muito ver NInguém pode saber, mas dizem que é triste e fico com medo. eu não estou inclinada por um tempo a ver tristeza, estarei in denial?rs. só quero uns finais felizes ou em aberto pra variar, entende? beijo grande.

     

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