Conto de madrugada.
A insônia as vezes me faz escrever noites inteiras:
Sem Título.
É como se lhe rompesse o peito de emoção. Tanto que tirava toda a inspiração para a escrita. O papel sobre a mesa e todos os seus refúgios anteriores, perdiam completamente o sentido. Ao mesmo tempo que queria gritar aquela energia disparada, não conseguia aliviar-se pela caneta. Para descrever aquela sensação precisava de mais e mais e mais. Nunca seria suficiente. Não era mais como os sentimentos vazios, procurando alguma razão ou falta de razão. Agora se sentia extremamente excitado como se fosse explodir a qualquer momento.
Espremia os olhos e procurava ver se não via mesmo o que estava vendo. Mas a imagem continuava intacta: o corpo leve sobre a cama. Parece que dorme em plumas. Se espreguiçava vez ou outra, se descobria, e lá vai recobri-la. – Se eu fosse escolher um momento para o resto da vida? – Seria este com certeza. Refazia a pergunta a cada minuto para ver se não mudava. Parece incrível. Essa era uma resposta inédita para toda uma vida.
Escreveu a primeira e única linha: existem doces mais doces que o da batata doce. – Eu não quero escrever nunca mais. Só sentir, sentir, sentir. Qual momento? – Este. Tinha certeza que não era sonho, se fosse, pensava que a felicidade não seria tão simples assim. Bastava aquele quadro vivo deitado sobre a cama, para lhe encher o peito cor-de-rosa. – Uma estrela que dorme, vai ser pra sempre a minha estrela. Que momento? Que momento? – Este.
- O mar... – Resmungou a voz recém acordada.
- Oi?
- O quadro. Eu não tinha reparado que era o mar.
Sorriu.
- Acho que ele é mutável.
- Como assim?
- A interpretação depende de como nos sentimos.
- Quer dizer que me sinto como o mar?
- Pode ser. O que seria o mar pra você?
- Acho que leveza. Como se eu pudesse ficar boiando para sempre nessa imensidão azul. – E você? O que você vê?
- Me lembra um conto de fadas.
- Genial! Então você se sente em um conto de fadas?
- É, acho que sim.
O ar grosso. A ponta do lápis quebrava insistentemente contra o papel. Os sentimentos todos vagos saltavam em linhas tortas: Por obra do tempo, a rotina pesa as costas.
- Eu estava arrumando as coisas e achei aquele quadro.
- Que quadro?
- Aquele do mar.
- Mar?
- É, não lembra? Você costumava deixa-lo em cima da cabeceira. Eu achava tão bonito, não sei porque o tirou dali.
- Ah, sim. Aquele da mancha azul. Enjoei dele, se quiser pode leva-lo.
- Incrível como as coisas se transformam de sonhos para manchas abstratas.
- O que você esta dizendo?
- Você dizia que o quadro era um conto de fadas.
- Mudei de idéia o que tem?
- Mudou porque você mudou também.
- Ah, não fale bobagens, é só um quadro idiota.
- É...deve ser... – Pegou as malas, pôs no carro, olhou para o quadro - ...de repente é mesmo só uma mancha abstrata. – Jogou-o na lata de lixo e saiu sem se despedir.
No quarto ele ainda escrevia sem parar: existem coisas que são lindas, mas não são tão bonitas assim. – Que momento? – Sim, estava de volta, não tinha resposta.
Sem Título.
É como se lhe rompesse o peito de emoção. Tanto que tirava toda a inspiração para a escrita. O papel sobre a mesa e todos os seus refúgios anteriores, perdiam completamente o sentido. Ao mesmo tempo que queria gritar aquela energia disparada, não conseguia aliviar-se pela caneta. Para descrever aquela sensação precisava de mais e mais e mais. Nunca seria suficiente. Não era mais como os sentimentos vazios, procurando alguma razão ou falta de razão. Agora se sentia extremamente excitado como se fosse explodir a qualquer momento.
Espremia os olhos e procurava ver se não via mesmo o que estava vendo. Mas a imagem continuava intacta: o corpo leve sobre a cama. Parece que dorme em plumas. Se espreguiçava vez ou outra, se descobria, e lá vai recobri-la. – Se eu fosse escolher um momento para o resto da vida? – Seria este com certeza. Refazia a pergunta a cada minuto para ver se não mudava. Parece incrível. Essa era uma resposta inédita para toda uma vida.
Escreveu a primeira e única linha: existem doces mais doces que o da batata doce. – Eu não quero escrever nunca mais. Só sentir, sentir, sentir. Qual momento? – Este. Tinha certeza que não era sonho, se fosse, pensava que a felicidade não seria tão simples assim. Bastava aquele quadro vivo deitado sobre a cama, para lhe encher o peito cor-de-rosa. – Uma estrela que dorme, vai ser pra sempre a minha estrela. Que momento? Que momento? – Este.
- O mar... – Resmungou a voz recém acordada.
- Oi?
- O quadro. Eu não tinha reparado que era o mar.
Sorriu.
- Acho que ele é mutável.
- Como assim?
- A interpretação depende de como nos sentimos.
- Quer dizer que me sinto como o mar?
- Pode ser. O que seria o mar pra você?
- Acho que leveza. Como se eu pudesse ficar boiando para sempre nessa imensidão azul. – E você? O que você vê?
- Me lembra um conto de fadas.
- Genial! Então você se sente em um conto de fadas?
- É, acho que sim.
O ar grosso. A ponta do lápis quebrava insistentemente contra o papel. Os sentimentos todos vagos saltavam em linhas tortas: Por obra do tempo, a rotina pesa as costas.
- Eu estava arrumando as coisas e achei aquele quadro.
- Que quadro?
- Aquele do mar.
- Mar?
- É, não lembra? Você costumava deixa-lo em cima da cabeceira. Eu achava tão bonito, não sei porque o tirou dali.
- Ah, sim. Aquele da mancha azul. Enjoei dele, se quiser pode leva-lo.
- Incrível como as coisas se transformam de sonhos para manchas abstratas.
- O que você esta dizendo?
- Você dizia que o quadro era um conto de fadas.
- Mudei de idéia o que tem?
- Mudou porque você mudou também.
- Ah, não fale bobagens, é só um quadro idiota.
- É...deve ser... – Pegou as malas, pôs no carro, olhou para o quadro - ...de repente é mesmo só uma mancha abstrata. – Jogou-o na lata de lixo e saiu sem se despedir.
No quarto ele ainda escrevia sem parar: existem coisas que são lindas, mas não são tão bonitas assim. – Que momento? – Sim, estava de volta, não tinha resposta.